A CABANAGEM EM óBIDOS

Neste artigo o autor revela aspectos da Cabanagem, Revolta Popular do Pará, mas direcionando a abordagem sobre os acontecimentos que envolveram o Município de Óbidos durante o movimento...

A CABANAGEM EM  óBIDOS

A Cabanagem, revolta popular do período regencial, que ocorreu entre os anos de 1835 e 1840 na província do Grão-Pará – hoje, Estado do Pará, região Norte do Brasil – recebeu esse nome por causa dos muitos revoltosos que moravam em cabanas às margens de rios e eram chamados de cabanos.

Durante o período de 1831 a 1840 a Amazônia viveu fase de grande instabilidade social devido aos acontecimentos envolvendo um grande número de pessoas vindas do meio do povo: eram negros escravos e libertos, caboclos, tapuios, índios, lavradores, ribeirinhos que devido às diversas formas de exploração que sofriam em virtude das imposições de comerciantes reinóis e brasileiros e também por problemas decorridos das transformações que se deram por conta da abdicação de D. Pedro I. Ora, não podemos esquecer que o Pará era muito próximo à coroa portuguesa o que gerou bastante desconforto entre o novo Presidente da Província Bernardo José da Gama, Visconde de Goiana, que era liberal, ou seja, partidário da independência e que sofreu imediatamente a oposição dos restauradores, portugueses ou seus aliados, que queriam o retorno da monarquia.

Nesse contexto o Visconde foi deposto em 7 de agosto de 1831 e quem deveria assumir a função de Presidente  Província seria O Arcipreste (responsável pela correta execução dos assuntos da igreja) João Batista Gonçalves Campos, que foi preso e encaminhado para o presídio do Crato, no rio Madeira, porém conseguiu fugir vindo parar na Vila de Óbidos, passando primeiramente por Juruti.

Contando com a ajuda do Padre Antônio Manuel Sanches de Brito, em 4 de fevereiro de 1832, Batista Campos já contava com o apoio de Óbidos, Faro, Alter do Chão, Santarém e Vila Franca que também aclamou Pedro II Imperador do Brasil. Posteriormente Batista Campos foi convidado pelo Brigadeiro Machado de Oliveira a retornar a Belém, o que acalmou os ânimos dos paraenses por mais de ano.

Depois de Machado de Oliveira o substituiu Lobo de Souza que possuía características singulares, como: a de ser muito desconfiado, alarmista, o que gerou muita instabilidade local vindo a ser morto logo após a deflagração da Cabanagem em 6 de janeiro de 1835, seis dias após a morte de Batista Campos em Barcarena.

A notícia da morte de Lobo de Souza e a aclamação, pelos revolucionários, de Antônio Clemente Malcher para Presidência da província movimentou os obidenses que sob o comando do vigário Antônio Manuel Sanches de Brito criou uma liga defensiva e ofensiva envolvendo as populações e lideranças do alto e baixo Amazonas. O padre Sanches queria transformar Óbidos no baluarte da defesa por considerar que seria o ponto mais defensável da região e que deveria sediar o governo provisório enquanto Belém não voltasse à legalidade.

Em meio a muita vigilância, os cabanos que contavam com a participação de indígenas em seu contingente, sempre encontravam brechas de se infiltrar entre a população nas vilas ou se esquivavam de serem aprisionados até que se estabeleceram em Ecuipiranga, próximo à Santarém e foram conquistando as vilas próximas como Santarém, Monte Alegre, Alenquer, Tupinambarana (Parintins).

Em Óbidos, os cabanos alegando promessas de paz e tendo convencido o vigário interino João Antônio Ferreira, este, deixou-os entrar na vila, porém, antes do sol raiar os cabanos sob o comando de Miguel Apolinário Maparajuba chefe de Ecuipiranga e senhor do baixo amazonas, já haviam tomado o Forte, as armas e munições e praticavam roubos, assassinatos e outros tipos de crimes, mas, em seguida se retiraram do lugarejo e quando o padre Sanches chegou à Vila, reorganizou a resistência e no momento em que os cabanos quiseram retornar para Óbidos, foram rechaçados à bala.

Durante aquele episódio do domínio sobre Óbidos pelos cabanos, a população, considerando que o fato seria um castigo pelo descaso com a capelinha do desagravo que foi destruída pela ação natural das terras caídas, fez promessa de que se os revoltosos deixassem a vila o povo iria reunir esforços para construir uma nova Capela do Desagravo, cuja primeira, que ficava na antiga barreira, por trás do atual Clíper de Sant’Ana e que se caracterizava como uma pequena construção, um pequeno espaço de orações em que só cabiam duas pessoas ajoelhadas. Inclusive, recentemente visualizamos o relato no artigo “Aromas de Óbidos, Uma Vila Perfumada” sobre a existência de uma Capela similar, ainda nos dias atuais, em Óbidos de Portugal.

De acordo com a ação popular a nova construção passou a ser denominada de Capela do Bom Jesus e atualmente fica no Largo da Praça Frei Rogério, a conhecida Praça do Ó, sendo que esta apresenta características bem singulares, cabem mais de duas pessoas e alguns casais a tem escolhido para a realização de enlaces matrimoniais.

Padre Sanches organizou a resistência e em 16 de junho de 1836 já retomavam Santarém dos cabanos e também incitou o Vigário-Geral João Pedro Pacheco a restaurar a lei no Alto Amazonas. Posteriormente, com a chegada das forças do marechal Soares Andréia, Presidente da Província, o padre teve importante papel na segunda fase da revolução com a situação em Belém já sob o domínio do governo legal, mas, faltava ainda encontrar e vencer os cabanos que praticavam guerrilha em ilhotas, rios, furos, igarapés e ocupavam Silves, Faro, Tupinambarana, Paurá, Ecuipiranga e Santana.

Sanches enviou 200 homens que partiram de Juruti até Livrar Faro, em 29 de outubro, do domínio dos cabanos. Enviou 50 homens a Alenquer, mas não entraram em ação uma vez que a população local retomou a vila. Assim, juntaram-se pessoas de Óbidos, Alenquer e Vila Franca e montaram um grupo de resistência contra os revoltosos, tendo ação contra um grupo de cabanos sob o comando de Belisário sendo derrotados no rio Arapiri e aos 15 de julho de 1837 atacaram Ecuipiranga tendo como comandantes das tropas de Óbidos, o padre Sanches, Antônio Manuel Branches e Ambrósio Aires, pondo fim ao movimento cabano na região.

Diante de todo o exposto, não podemos deixar de lembrar que a Cabanagem foi um movimento de cunho popular e que teve como característica essencial a luta do povo das classes baixas contra a miséria e a exploração que sofria no Estado do Pará durante a primeira metade do século XIX.

Imagem de capa: diarioonline.com.br

Por Márcio Rubens

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